A comummente designada cera dos ouvidos não é realmente cera, mas sim uma substância designada cerúmen, produzida naturalmente pelo organismo e que se liga a sujidades, pó e outros detritos por forma a proteger os ouvidos.
Na maior parte das pessoas este processo de auto limpeza que o organismo faz resulta bem. No entanto, para 10 % de crianças pequenas, 20 % de adultos e 30 % (!) de idosos (bem como pessoas que desenvolveram algum tipo de incapacidade), a cera vai-se acumulando ao ponto de bloquear por completo o canal auditivo.
Por isso, de todas as complicações que vêm com a idade, o excesso de cera é uma das mais irritantes. Afinal a cera de ouvido é extremamente inestética, o que causa desconforto perante os outros. Mas é um facto que um ouvido mais velho tem tendência a produzir mais desta substância.
As guidelines de 2017 da American Academy of Otolaryngology Head and Neck Surgery Foundation apontam, por exemplo, que até 2/3 das pessoas em lares podem sofrer desta condição.
“A produção excessiva de cera dos ouvidos pode causar perda de audição ou zumbido nos ouvidos”, aponta Jackie Clark, uma audiologista certificada – um profissional treinado em problemas de audição – que preside à American Academy of Audiology.
Em idosos, esta impactação dos ouvidos por cera, apesar de parecer algo muito simples, é já uma das razões mais comuns para problemas relacionados com a audição.
Deve-se tratar o Excesso de Cera nos ouvidos?
Normalmente, a melhor forma de controlar a cera nos ouvidos é deixá-la estar. Mas este conselho pode não ser assim tão eficaz quando doentes mais idosos, os seus familiares ou cuidadores, se esquecem de fazer um check-up regular. Mais: na medida em que nos idosos o uso de aparelhos auditivos é frequente, um exame mais completo ao ouvido deve ser feito de 3 ou de 6 em 6 meses, segundo indicação das guidelines. Pessoas com demência, por exemplo, devem ter a sua cera dos ouvidos removida com regularidade.
Como remover o Excesso de Cera nos Ouvidos?
Esta remoção requer a mão de um profissional e um otoscópio – um aparelho que permite olhar bem dentro do ouvido – para perceber se o cerúmen está a bloquear o canal auditivo. Normalmente, a cera dos ouvidos pode ser removida em casa com produtos como o otowel CERA. Informe-se junto do seu médico ou farmacêutico.
Além da questão da idade em si mesma, há outras correlações importantes que se começam a fazer notar. A perda de audição leva a, por exemplo, uma declínio cognitivo que é importante de estudar.
Nos idosos, em especial, esta corelação é óbvia. Um pequeno estudo japonês de 2014 mostrou por exemplo melhorias significativas na audição e performance cognitiva de idosos com problemas de memória após a limpeza da cera nos ouvidos.
O que pode, ou não fazer
Demasiadas vezes, a questão do excesso de cera nos ouvidos em populações mais velhas vem sendo negligenciada e passa despercebida à comunidade médica. Para além das consultas regulares com o seu médico especialista, há algumas coisas que pode (e outras que não deve) fazer por forma a evitar problemas de maior:
Pode:
1. Compreender que a cera dos ouvidos é normal. Se não estiver a causar sintomas ou perda de audição deve ser deixada assim mesmo;
2. Estar atento a sintomas como diminuição da audição, sensação de ouvido tapado, zumbido nos ouvidos ou alguma distorção nos sons que normalmente ouve;
3. Excluir a possibilidade de ter algo mais grave consultando o médico se sentir algum destes sintomas – por exemplo, a otite média pode revelar-se através de sintomas de ouvido tapado;
4. Procurar o conselho do médico ou farmacêutico sobre a melhor forma de limpar os ouvidos em casa.
Não deve:
1. Limpar demasiado os seus ouvidos, para evitar irritações, infeções ou ainda aumentar a impactação;
2. Usar cotonetes ou outros objetos para limpar os ouvidos;
3. Evitar os remédios caseiros. Opte sempre por procurar ajuda de um profissional de saúde;
4. Quando recomendado por um profissional, e da maneira que ele definir, esquecer-se de limpar os ouvidos.
Referências:
1. SCIENTIFIC AMERICAN. The Dangers of Excessive Earwax. Disponível em https://www.scientificamerican.com/article/the-dangers-of-excessive-earwax/. Consultado em 13 setembro de 2019.
2. AMERICAN ACADEMY OF OTOLARYNGOLOGY HEAD AND NECK SURGERY. Clinical Practice Guideline: Cerumen Impaction. Disponível em https://www.entnet.org/content/clinical-practice-guideline-cerumen-impaction. Consultado em 13 setembro de 2019.
3. GERIATRICS & GERONTOLOGY INTERNATIONAL. Effect of cerumen impaction on hearing and cognitive functions in Japanese older adults with cognitive impairment. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/260993796_Effect_of_cerumen_impaction_on_hearing_and_cognitive_functions_in_Japanese_older_adults_with_cognitive_impairment. Consultado em 13 setembro de 2019.
4. AMERICAN ACADEMY OF OTOLARYNGOLOGY HEAD AND NECK SURGERY. Dos and Don’ts of Earwax (Cerumen). Disponível em https://www.entnet.org/sites/default/files/uploads/PracticeManagement/Resources/_files/earwax_dos-donts_current.pdf. Consultado em 13 setembro de 2019.